domingo, 28 de fevereiro de 2010

FALTA DE SANEAMENTO


 

Lagoas contaminadas

As lagoas da cidade continuam a sofrer com a ocupação irregular e com a falta de saneamento. A Prefeitura se esforça para urbanizar o entorno de algumas e reassentar famílias ribeirinhas, mas para o problema do saneamento não pode dar solução definitiva a médio prazo
Mariana Toniatti
da Redação.

No bairro ninguém sabe dizer onde fica a lagoa Álvaro Weyne. "Aqui não tem lagoa nenhuma", repetem os moradores. Até que alguém lembra do matagal na rua de trás. "Será que é lá?" É. Debaixo do mato que forma um tapete verde de mais de um metro de altura está escondido o espelho d'água da Lagoa do Urubu, apelido dado por quem mora nas margens. A ocupação reúne cerca de 400 famílias. "Hoje, em Fortaleza, entre 10.000 e 15.000 famílias moram irregularmente na beira de rios e lagoas", diz a presidente da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), Olinda Marques.

Na Lagoa do Urubu, as casas improvisadas foram levantadas em cima do sistema de tratamento de esgoto de um conjunto habitacional construído pela Prefeitura. Prejuízo duplo: a estação de esgoto não funciona e os casebres da ocupação despejam detritos na água. O problema pode diminuir com a derrubada de duas casas que obstruem o conduto principal do sistema de esgoto, identificadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Serviços Urbanos (Semam). "As duas casas devem ser feitas agora. A desocupação e o reassentamento das demais famílias estão no Orçamento Participativo para 2007", diz a chefe do distrito de meio ambiente da Secretaria Executiva Regional I (SER I), Ana Lucia Viana.

Com tantos nutrientes vindos dos dejetos, a vegetação cresce forte na Lagoa do Urubu, diminuindo o volume da água. O processo chamado eutrofização desfigura e mata aos poucos outras lagoas da cidade, como a do Papicu, escondida na curva entre o bairro Dunas e a avenida Santos Dumont. Oásis de vento e sombra, lá também há uma invasão, mas em proporção menor. Algumas poucas famílias se instalaram e o espelho d'água virou quase nada no meio da profusão dos aguapés.

No Tancredo Neves, a Lagoa da Vila Cazumba também passa despercebida na paisagem. Nenhuma nesga de água está à vista. Limpa recentemente, em janeiro de 2006, a lagoa já está novamente coberta de plantas, sufocada. A menos de 20 metros da água, casas de alvenaria erguidas há mais de dez anos despejam esgoto in natura na lagoa. Antônia Silva, 56, mora há mais de 20 anos no lugar com o marido e dois filhos. "A gente pescava, tomava banho, lavava roupa", lembra.

Na rua, quem pode sobe a casa, deixando a construção a pelo menos 50 centímetros acima do chão. "Depois do último inverno pesado, alteei (sic) tudo pra água não entrar mais. Foi depois que tive umas feridas no pé e a doutora disse que era micose", conta sem desejo nenhum de sair dali. "Quero é ter esgoto e poder fazer meu banheiro". Um amontoado de barracos, a uns 100 metros da casa de Antônia, também polui a lagoa. "Tenho pra mim que a sujeira daí foi que piorou a água. É muita gente e as casas não têm nada", diz Manoel Araújo, 68, que diariamente leva seu pequeno rebanho de carneiros para pastar na margem úmida da lagoa.

Perto dali, um dos canais que deságuam na Lagoa da Zeza, limpa na mesma época que a Vila Cazumba, é só um fio d'água correndo entre o lixo. Entre dezembro e janeiro, quando a SER VI executou a limpeza das duas lagoas e de outros 26 canais da região, foram investidos R$ 398.000,00, mas os resultados da ação não duraram nem um ano. Agora uma solução mais definitiva se anuncia. A Habitafor começa ainda em 2006 a execução de um grande projeto de reurbanização da Lagoa da Vila Cazumba e da Zeza financiado pelo Ministério da Cidade.

Serão investidos R$ 29 milhões para reassentar 900 famílias e urbanizar as lagoas. "Ao todo 9 mil famílias serão beneficiadas. Além do reassentamento, o projeto prevê a regularização fundiária e a melhoria habitacional das casas", diz Olinda. Possibilidade real de recuperar a vida das lagoas e a qualidade da água.
31 Out 2006 - 01h57min
Fonte: Jornal o Povo 

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