domingo, 28 de fevereiro de 2010

ÁREAS DE RISCO (29/2/2008)



População desconhece obras do PAC

Terra sem dono: enquanto moradores da Lagoa do Papicu aguardam a entrega de 612 casas, um novo processo de ocupação é iniciado em área proibida
MIGUEL PORTELA
29/2/2008
Moradores das Lagoas do Papicu e Urubu, Campo Estrela e São Cristóvão vivem sem estrutura adequada

Quem mora nas casas de taipa da Lagoa do Papicu, nas ruas perigosas e sujas do entorno da Lagoa do Urubu ou nas sem pavimento e sem nenhuma estrutura do Campo Estrela e São Cristóvão não ficaram sequer sabendo da visita do presidente Lula ao Bom Jardim. O presidente da República assinou, ontem, ordem de serviço de obras de moradia, urbanização e melhorias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), totalizando investimentos de R$ 54 milhões.

Descrentes em qualquer tipo de melhorias que possam chegar, inclusive habitação, os moradores dessas áreas de risco desconhecem detalhes das obras nas quais estão incluídos. Além da moradia precária, de taipa, papelão ou qualquer coisa que fique em pé, essas comunidades vivem irregularmente às margens de riachos, lagoas, canais, convivendo de perto com a sujeira, lama, animais - como cobras e ratos - e sem estruturas básica.

Na Lagoa do Papicu, por exemplo, enquanto uma parte dos moradores ouviu falar que vai receber casas, outro grupo inicia uma nova ocupação. “A gente ouviu falar que são 612 casas para o pessoal lá de baixo e algumas aqui em cima. Mas de certeza mesmo, não sabemos de nada”, disse o barman Danilo Silva.

Lá no morro, nas proximidades da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, uma outra parte do terreno que fica no entorno da Lagoa do Papicu está em processo de ocupação. Cordões, madeiras e correntes delimitam o espaço que, segundo os moradores, é proibido. “A gente aqui não pode nem colocar os pés lá”, conta uma moradora que não quis se identificar.

Já nas margens da Lagoa do Urubu, no Álvaro Weyne, até os moradores que não vão receber casas estão satisfeitos com a chegada da urbanização. Isso porque foi uma demanda da comunidade Santo Antônio da Floresta, reivindicada no Orçamento Participativo. “Faz dez anos que essa comunidade existe, mas não temos nada. A situação aqui é muito ruim porque grande parte das casas é de taipa e não agüenta uma chuva”, explica o presidente da Associação de Moradores da Comunidade Santo Antônio da Floresta, Ednardo Bezerra.

A população do Santo Antônio da Floresta, conforme Ednardo Bezerra, está com expectativas boas porque, ao contrário de outras desocupações, ficarão num terreno próximo, enquanto a obra das casas e da urbanização não terminam.

Essa mesma satisfação não existe nas comunidades do Campo Estrela e São Cristóvão, no grande Jangurussu. Lá, parte das famílias que ocuparam a área já construíram casas de tijolo e cimento, com bem mais estrutura do que as outras. A parte mais crítica fica às margens da Lagoa das Pedras.

A líder comunitária Tereza Gomes disse que a comunidade está insatisfeita porque a Prefeita afirmou que não pagaria indenização. “Não temos certeza de nada, mas disseram que uma parte dos moradores ia receber casa no Conjunto Patativa do Assaré. Ninguém vai querer sair de suas casas construídas com muito suor para morar num cubículo”, argumenta.

Tereza reclama que a área é tão abandonada que até o aterramento das ruas quem fez foi os moradores. “Até na limpeza que vieram fazer aqui deixaram os entulhos nas portas das casas. Não dá para acreditar em nada”, finaliza.
Paola Vasconcelos
Repórter

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Famílias não acreditam em projetos de moradia
Fonte: Diario do Nordeste

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